2020 vem sendo um ano diferente. A pandemia do Novo Coronavírus bagunçou a rotina de todos: adultos e crianças. O isolamento social salva vidas, mas também pode causar transtornos perigosos, como ansiedade e depressão. Segundo dados do Google, a pergunta “como lidar com a ansiedade” bateu o recorde de interesse da última década. Houve, ainda, um aumento de 98% nas buscas sobre o tema de transtornos mentais, durante o ano.
Segundo o médico psiquiatra Helio Lauar, da Central Psíquica (CEPSI) o ser humano nasce em uma condição de desamparo, necessitando de cuidados. Desde o nascimento, ele aprende que precisa do outro para sobreviver. Por consequência, a falta de convívio com outras pessoas é motivo de sofrimento e angústia. Mas não é momento para pânico, e sim aprendizado e reflexão. Confira!
Como as crianças são afetadas?
O estresse causado aos pais pela pandemia acaba repercutindo nos filhos. Em meio ao caos de informações relacionadas ao Novo Coronavírus, as percepções chegam às crianças através de muitos fatores, como as emoções das pessoas próximas, as mudanças de rotina e situações de sofrimento. A restrição de tarefas como ir à escola, brincar com os colegas ou visitar os parentes próximos pode gerar angústia, medo e desamparo, ocasionando um ciclo de ansiedade. Dessa forma, torna-se fundamental criar um diálogo e esclarecer a realidade.
Para a psicóloga Roberta Desnos, coordenadora pedagógica do Laboratório Inteligência de Vida é importante explicar a situação: “Converse com as crianças de maneira tranquila e honesta e de acordo com a capacidade de compreensão de cada idade. Não infantilize a criança ou desconsidere sua percepção da realidade. As crianças estão passando por esse período de distanciamento social e também tiveram suas vidas alteradas”.
A melhor forma de oferecer suporte às crianças nesse momento, portanto, é através da comunicação. Além de conversar sobre os acontecimentos, também é essencial que se converse sobre como a criança está se sentindo em relação a isso. É necessário criar um ambiente seguro para que ela consiga expressar suas emoções, estabelecendo uma relação de confiança e cumplicidade.
Como lidar com as crianças durante o isolamento social?
Além da transparência e da comunicação como meio de esclarecimento de dúvidas e alívio de sentimentos, é preciso fazer mais. Principalmente para pais que estão em home office, torna-se fundamental criar alguma distração para a criança em casa, considerando os colégios fechados ou com restrição de horário. Para isso, temos algumas dicas:
1. Ler em família
Passar o dia inteiro em casa pode ser desmotivador. Um dos grandes desafios da quarentena é diversificar as atividades, mesmo com as limitações. Para isso, os livros podem ser aliados. É uma boa oportunidade para estimular a criatividade, capacidade de foco, e combater a ansiedade. Existe ainda a literatura educativa, que pode ser uma maneira leve de discutir temas importantes, que acabam se tornando mais sensíveis nos momentos de isolamento social. Recomendamos o livro Como fazer de um dia chato algo espetacular.
2. Cuidar das plantas ou animais domésticos
Outra forma interessante de despertar o sentimento de sensibilidade e compaixão nas crianças é dá-las a responsabilidade (compartilhada) de cuidar de algum ser vivo, seja ele uma planta ou um animal. O estímulo de olhar com carinho para o meio ambiente e a natureza é extremamente importante para um crescimento mais saudável e consciente em relação às questões sustentáveis, que fazem parte de um compromisso de toda sociedade.
3. Incluir a criança nas tarefas domésticas
Pode ser uma boa ocasião para incentivar a participação das crianças em pequenas tarefas domésticas: guardar os alimentos após a refeição, alcançar os temperos para quem está cozinhando, lavar a salada. Esses exercícios, além de desenvolver a autonomia e independência, proporcionam um senso de responsabilidade com os cuidados da casa.
4. Manter uma rotina
Tudo mudou! E, claro, a rotina das crianças precisa ser adaptada. Mas isso não é motivo para que não se tenha rotina. Estabelecer horários é importante, tanto para manter a criança regulada em relação a estudo, alimentação e sono, bem como para fomentar a disposição e evitar desânimo. Uma dica é utilizar planners e quadros de incentivo ou rotina.
5. Incentivar o exercício físico
Vale tudo! Ginástica, esporte, meditação, alongamento, dança. É fundamental fazer com que a criança gaste energia e alivie o estresse. Além disso, esse tipo de atividade também auxilia no sono, diminuindo a ansiedade e causando uma sensação de exaustão saudável. Quem sabe criar uma coreografia da música preferida?
6. Conversar sobre os sentimentos
Como já falado, o momento é de conversa constante. Não basta um diálogo isolado, ele precisa ser frequente. Até porque, quanto mais houver incentivo, mais fácil será para a criança se expressar e falar sobre seus sentimentos e angústias. Existem mecanismos que podem ser interessantes para ajudar nesse processo, como o Pote da Calma, o Pote da Gratidão ou o Imã Dentro de Mim.
7. Alimentar as amizades
Apesar de afastadas do convívio presencial, as crianças podem – e devem – manter contato digital. Felizmente, hoje em dia é possível realizar uma videochamada entre os colegas de turma, ou com os avós que estão isolados. É imprescindível manter e, quem sabe, até intensificar, os vínculos afetivos da criança.
Quando pedir ajuda?
Sempre que não houver sinais de melhora. A saúde mental, em meio ao isolamento social, de fato fica muito comprometida. No entanto, se os pais se empenham para buscar meios de incentivar e ajudar as crianças, e mesmo assim não há uma reação positiva, talvez seja o momento de procurar ajuda profissional – para os pais, e para as crianças. É preciso lembrar que as emoções dos filhos, muitas vezes, são reflexo das emoções dos pais.
Ei, pai/mãe! Não se cobre tanto!
A situação é nova para todos, inclusive para os pais. Portanto, não é o momento de cobrança. É uma fase de novas descobertas e reflexões. Tudo bem não saber exatamente como lidar com o “novo normal”: ninguém sabe. Em matéria de isolamento, somos todos crianças em processo de aprendizado. Se permitir também faz parte do processo. O importante é estar atento e procurar ajuda, sempre que necessário.
Juliana Martins
Psicóloga | Mãe da Duda | Criadora da BBDU