Quem é pai ou mãe bem sabe o que é ter que lidar com um ataque de birra do filho no meio do supermercado ou do shopping, ou ainda, por causa de alguma coisa que ele falou ou fez e que não “devia”. Na BBDU, a gente vive recebendo perguntas sobre como lidar com estas situações, então hoje eu decidi falar sobre o cérebro infantil.
Vou falar de uma forma super simples e concreta, mas que eu acho que quando conseguimos ter em mente estes conceitos, conseguimos entender vários comportamentos de nossos filhos (e até mesmo nossos) e poderemos lidar diferente com as situações. Não quero que você fique um Expert em cérebro, mas se você entender estes 4 quadrantes eu já vou ficar bem feliz e acho que poderá ajudar você em várias situações.
Eu vou usar algumas analogias que são apresentadas no livro O Cérebro da Criança, escrito por Dr. Daniel J. Siegel e Dra. Tina Payne Bryson. Quem gostar do assunto e quiser saber mais eu recomendo a leitura.
Podemos dividir o cérebro em 4:
O lado esquerdo, o lado direito o andar de cima e o andar de baixo.
O lado esquerdo é responsável pela lógica, as regras, o sequenciamento de informações e organização.
O lado direito são as emoções, e as experiencias dos relacionamentos.
E só por esta informação a gente já consegue entender algumas coisas.
Crianças pequenas, até mais ou menos três anos tem predominância do lado direito, o esquerdo ainda está em formação. Eles ainda não dominam a capacidade de usar a lógica e palavras para expressar sentimentos e vivem completamente o momento, motivo pelo qual param tudo para observar uma formiga sem se preocupar com mais nada, mesmo que estejamos chamando para ir para escola ou almoçar.
E aqui vale uma observação, pois uma vez já me questionaram dizendo que crianças já nascem com o cérebro formado. Sim, estruturalmente sim, mas nosso cérebro determina quem somos e o que fazemos e ele é moldado por nossas experiências, então quando falo em formação estou falando disso.
Bom, voltando para as crianças pequenas (até mais ou menos 3 anos), elas são “esponjas emocionais” captam todas as experiencias que os relacionamentos proporcionam a elas e claro seus cérebros esquerdos estão tentando encontrar lógica em tudo o que vivem. E é por isso, que não adianta virmos com nossos cérebros desenvolvidos querer explicar com detalhes porque ela não pode colocar o dedo na tomada, ou porque ela não pode bater no amiguinho. Ela vai capturar muito mais a emoção, seu tom de voz, sua expressão e palavras curtas, não frases.
Mas lembra que eu falei que ia dividir o cérebro em 4? Então, falamos do lado direito e esquerdo, temos ainda o andar de baixo e o andar de cima.
Os cientistas dizem que as partes mais baixas do cérebro são mais primitivas porque são responsáveis por funções básicas como: respirar e piscar, por reações inatas como lutar e fugir e por fortes emoções como raiva e medo.
Já o cérebro do andar de cima é mais evoluído. É onde ocorrem os processos mentais mais intricados, como pensar, imaginar e planejar. Por sua complexidade é responsável por muitas características que esperamos ver em nossos filhos, como: tomada de decisão
controle sobre emoções e o corpo, autocompreensão, empatia e moralidade.
E ai uma analogia que eu amo para entender esse funcionamento é a comparação com uma casa, onde o andar de baixo é onde suprimos nossas necessidades básicas, onde normalmente está a cozinha e no andar de cima está nosso quarto onde dormimos, tomamos aquele banho gostoso para relaxar e planejar o dia seguinte. E ai, mais uma vez, no cérebro de nossos filhos o andar de baixo está construído e o de cima ainda está inacabado. E para vocês terem uma ideia, esta construção ficará assim em obras até os 20 e poucos anos, ele está em plena construção nos primeiros anos de vida e depois passa por uma ampla reforma na adolescência … Ou seja, como pais temos muito trabalho pela frente, no apoio a construção de cérebros saudáveis de nossos filhos.
E lembra da Birra que comecei falando? Então, da perspectiva de lado direito e esquerdo, temos crianças inundadas de emoção sem saber muito bem como lidar com elas. Elas ainda não tem recursos mentais para lidar com elas, nós é que precisamos ajudá-las a se instrumentalizar.
Da perspectiva de andar de cima e andar de baixo, o que ocorre é que muitas vezes uma descarga emocional bloqueia a escada que leva para o andar de cima da casa. Lembra que é no andar de cima que estão as construções que tanto desejamos para nossos filhos? A tomada e decisão, o pensar antes de agir, o planejamento, auto controle, pois então, eles estão presos lá em cima e nosso filho está agindo só com o andar de baixo … Que é instintivo e primitivo. Precisamos ajudá-lo a ter acesso ao andar de cima.
E porque eu falei tudo isso? Porque eu acho que quando passamos a entender um pouquinho desta estrutura, mesmo que de forma muito simples como esse nosso cérebro ilustrado que está neste post conseguimos agir diferente e situações como: no meio do supermercado, verifique se não é fome ou sono, nestas condições o andar de cima está bloqueado, ele não vai ouvir nada o que você disser racionalmente. Não é isso? Ele só está brabo porque não ganhou o que queria? Beleza, o andar de cima também estará boqueado kkk, não adianta você dizer nada racionalmente :). O que fazer então? Abaixe-se olhe nos olhos dele, o faça respirar fundo ou o abrace para acalmá-lo, diga que entende ele estar brabo, mas que ele precisa se acalmar para poder conversar, se não fizer isso vocês terão que ir embora. Enquanto ele não se acalmar, não argumente, não vai adiantar. Ai então quando ele se acalmar ai sim, negocie ou simplesmente confirme a negativa.
Ah falando em negociar, uma outra coisa interessante sobre o cérebro infantil, ele não lida bem com negativas e escolhas complexas, então use argumentos como: Muito bem, agora que você se acalmou, prefere ir para o carro com o papai e esperar mais tranquilo lá ou você fica aqui comigo e eu termino tudo o mais rápido possível? Veja em ambas as situações você continuará fazendo o que tem para fazer e sem ceder, mas só colocou uma alternativa viável para ele escolher e se tranquilizar.
Enfim, teria muitos outros exemplos e situações para falarmos disso, mas deixa para um próximo post, por hoje é suficiente. Faremos mais posts sobre o cérebro infantil e seus quadrantes 🙂
Um beijo,
Juliana
Psicóloga, mãe da Duda e da BBDU.
Òtimo artigo Juliana..tenho vontade de fazer faculdade de Psicologia e essa área me cativa muito.
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Que legal Adriano, fico bem feliz. Se precisar de alguma coisa conte comigo.
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