As birras são manifestações comportamentais observadas com relativa frequência nas crianças. Elas expressam a dificuldade que a criança tem de lidar com as frustrações, e isso é natural no processo de desenvolvimento.
Dos dois aos três anos, a birra é muito frequente. Tanto que a faixa etária ficou conhecida como “os terríveis dois anos”. Neste período, as crianças têm um forte desejo de ver suas vontades realizadas naquele exato momento. Se não são atendidas, choram ou gritam, às vezes batem a cabeça no chão ou na parede, jogam objetos, entre outras atitudes.
Mesmo sendo estranho ver o filho que era carinhoso e brincalhão, agora intercalar momentos de intolerância e impaciência, reagindo negativamente a coisas que antes ele fazia, sem problemas, não se surpreenda. Isso é normal. Nesta fase, as crianças demonstram com vigor o anseio pela independência e reagem frente à frustração por não serem atendidas. Perceba que logo em seguida, depois de apresentar esta tempestade de emoções, seu filho volta a ser doce e carinhoso, como se nada tivesse acontecido. O fato de não terem a linguagem verbal completamente desenvolvida nesta fase, dificulta que suas emoções sejam expressas de forma tranquila, sendo manifestas através de atitudes e gestos e crises de birra.
O ‘não’ é o primeiro organizador psíquico da criança e é algo muito importante tanto para ela, quanto para os pais. Para os pais porque vai tornar a vida deles mais fácil, e para a criança porque ela tem de ser preparada para a vida e precisa colher os frutos de uma boa educação. Ou seja, dizer “não” é fundamental para criar crianças que respeitem os limites.
Claro que os ataques de birra dos pequenos não são uma coisa bonita de se ver, mas você deve respirar fundo! Além de chutar, gritar ou socar o chão, seu filho pode jogar coisas, bater ou prender a respiração até ficar roxo. Nessa hora, ele não escutará nenhuma “voz da razão”.
Uma tática que pode funcionar é ficar perto do seu filho durante o chilique. Sair da sala ou do quarto e deixá-lo sozinho – por mais tentador que seja – pode fazê-lo se sentir abandonado. A tempestade de emoções que tomou conta da criança pode ser assustadora para ela, e ela gostará de saber que há alguém por perto. Algumas teorias preconizam deixar a criança sozinha, porém, atualmente SABEMOS QUE ISSO NÃO É O ADEQUADO. A criança não faz birra somente porque aprendeu que ela funciona, mas porque é neurologicamente imatura e não consegue controlar este impulso.
Alguns especialistas recomendam carregar a criança no colo, se possível, e dizer-lhe que o abraço é gostoso. Mas outros dizem que é melhor ignorar o chilique até a criança se acalmar, em vez de “recompensar” o comportamento negativo. Você acabará descobrindo o que é melhor para seu filho por meio de tentativa e erro.
Mas, por mais que o chilique dure, não ceda a demandas pouco razoáveis. Bem que dá vontade de fazer isso, para acabar logo com o escândalo, ainda mais quando se está em público. Tente não se preocupar com o que os outros pensam: todo pai e mãe já passaram por isso. Se você ceder, só vai ensinar ao seu filho que espernear é um bom jeito de conseguir o que quer.
Quando a tempestade passar, converse com seu filho sobre o que aconteceu. Diga que você entendeu a frustração dele, e ajude-o a colocar os sentimentos em palavras, dizendo algo como: “Você estava muito bravo porque você não ganhou aquele brinquedo que queria”. Deixe-o perceber que, se ele usar palavras para se expressar, vai conseguir resultados melhores.
Tente evitar situações que possam levar seu filho a ter uma crise de birra. Por exemplo, se ele é do tipo que fica muito mal-humorado quando está com fome, carregue pequenos lanches. Se ele tem problemas na transição de uma atividade para outra, avise-o com antecedência.
Nessa fase, seu filho também está às voltas com a independência, então lhe dê a chance de fazer escolhas sempre que possível. Ninguém gosta de receber ordens a todo instante.
Embora ataques e chiliques diários sejam normais quando a criança tem entre 1 e 3 anos, você precisa ficar de olho em possíveis problemas. Pense se houve algum problema sério na família, uma fase de muita correria na vida de todos, se há tensão entre a mamãe e o papai. Tudo isso pode causar esse tipo de comportamento.
Se seu filho tem mais de 2 anos e meio e continua tendo altos ataques de birra todos os dias, converse com o pediatra. Se a criança for mais nova, mas tiver de três a quatro ataques por dia e não cooperar em nenhuma das atividades diárias, como se vestir ou guardar os brinquedos, também pode ser o caso procurar outro tipo de ajuda. O pediatra pode verificar se há algum problema físico ou psicológico mais sério e sugerir maneiras de lidar com a situação.