O título pode parecer muito estranho. Como assim suficientemente boa? Uma mãe não procura ser o melhor possível? Essa não é a expectativa da maioria das mães?
Pois bem, uma pessoa fundamental no conhecimento sobre a importância do vínculo entre mãe e filho, trouxe este conceito de mãe suficientemente boa e ainda hoje é extremamente atual. Ele é nada mais e nada menos que Donald Winnicott (pediatra, psicanalista de crianças e importante pesquisador sobre desenvolvimento infantil).
O conceito de mãe suficientemente boa representa o tipo de vínculo afetivo que a criança precisa para desenvolver-se plenamente. E apesar de parecer estranho, este tipo de mãe não é perfeita.
Este tipo de mãe caracteriza-se por apresentar maior disponibilidade e capacidade de deixar de lado os seus interesses pessoais para concentrar-se no bebê. Esta situação lhe permite conhecer como ninguém o seu filho e saber precisamente o que fazer. Talvez pode parecer que não está bem se deixar de lado para se concentrar no bebê, mas saibam que isto é um processo que vai acompanhando o desenvolvimento do filho e vai mudando a medida que ele vai crescendo e conseguindo tolerar esta distância. Ou seja, a medida que o bebê começa a ficar mais independente e a simbiose inicial começa a diminuir a mãe volta a dar lugar pra ela mesma. Esses primeiros meses são fundamentais para o desenvolvimento emocional, psicossocial e cognitivo de uma criança.
Ok, até aqui parece ser uma mãe excelente aquela que se deixa de lado para estabelecer um vínculo forte com o seu filho que o permita desenvolver-se plenamente. De onde vem o termo suficientemente boa então? Ele vem na verdade porque uma mãe também erra, uma mãe falha, ela frustra o seu filho. Este tipo de comportamento acompanha o processo da dependência a da independência.
Nos primeiros meses, o bebê se encontra em um estado de dependência absoluta no qual a mãe se deixa de lado para responder a todas as necessidades do filho. À medida que os meses vão passando e que as habilidades motoras e cognitivas do bebê vão se aprimorando, o bebê começa o processo rumo a dependência relativa. Neste momento ele precisa se separar do corpo da mãe para explorar o mundo e adquirir experiências e por tanto conhecimentos. É nestes momentos que a mãe precisa ser suficientemente boa, ela precisa errar ao não responder imediatamente aos chamados ou pedidos do filho por que vai ser ai que a criança vai ter que resolver por si mesma. Quando a mãe frustra o filho ao não responder imediatamente, ela está dando abertura para o surgimento do desejo. Se eu quero uma coisa mas eu não obtenho imediatamente, com certeza isto vai me fazer querer ainda mais aquilo.
Esta mãe suficientemente boa é aquela que sabe que já não precisa ficar o tempo todo unida corporalmente com o bebê para estar presente. Ela está presente através do olhar, olhando de longe o que bebê está fazendo, e acompanhado com a palavra quando não se encontra no campo visual do filho para que ele mesmo assim sinta que ela está com ele. Estas características da mãe favorecem o processo de independência e a capacidade de estar sozinho. À medida que a criança vai se tornando independente a mãe começa a retomar o interesse por ela mesma, sem deixar de estar presente para seu filho.
Então queridas mães, ser uma mãe suficientemente boa é dar todo seu melhor, mas mesmo assim, errar.
Licenciada em Psicomotricidade Manuelita Dotti
dottimanuela@gmail.com
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