A criança hiperativa

Hoje vou falar de hiperatividade sob a perspectiva da psicomotricidade.

criancahiperativa
A palavra hiperatividade é uma palavra complexa e muitas vezes mal utilizada. Ela é associada frequentemente só ao TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com hiperatividade), mas na verdade ela também existe sozinha. É o que os psicomotricistas chamam de instabilidade psicomotora. E ela é o tema deste post.
Nosso maior número de consultas, são de pais que reclamam do comportamento hiperativo dos seus filhos de 3-4 e 6-7 anos. Muitas vezes falam “meu filho não para quieto”, “ele nunca fica quieto”, “toca tudo”, “não escuta”. Ou as vezes eles falam da reclamação do professor na escola que relata “ele não se concentra em nada”, “vive nas nuvens”, “conseguiria fazer muito mais se ficasse mais quieto”.
Existe um período no qual toda criança se movimenta muito. É a fase que nós chamamos de explosão motora. Nesta fase entre os dois e três anos (ou inclusive maiores), o que mais dá prazer na criança é se movimentar o tempo todo. A capacidade de prestar atenção a alguma coisa é muito curta, por tanto é normal a falta de atenção. Estou fazendo este esclarecimento porque muitas vezes os pais acham que o seu filho é hiperativo mas na verdade não é. Ele esta passando por uma fase na qual sente mais prazer por se movimentar.

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Falamos de instabilidade psicomotora quando a criança apresenta algumas destas características:
• Uma ação desorganizada (não consegue iniciar-continuar-terminar uma atividade).
• Impulsividade (se mostra um pouco impulsiva, mas esta não é a sua principal característica).
• É hiperativa.
• Procura no choque contra as coisas o limite corporal que não possui. Como se o corpo não tivesse fronteiras.
• Tem dificuldades para prestar atenção por que não consegue parar para realizar a atividade.
• Presença de dificuldades para aceitar limites.
• Tem um baixo limite a frustração.
• Apresenta labilidade emocional.
• Passa por diferentes atividades sem explorar nenhuma.
• Não presta atenção no adulto ou demanda ele excessivamente.
• Pode apresentar uma autonomia exagerada em relação a idade.
• Não consegue relaxar.
• Presença de dificuldades no sono.
• Presença de dificuldades para esperar.
• Presença de satisfação instantânea.
• Prefere brincadeiras de descarga.
• Presença de pouca elaboração simbólica.
• Pouca criatividade.
• Algumas crianças procuram chamar a atenção o tempo todo com atitudes que provocam o adulto.
• Podem ser tanto hipertônicos como hipotônicos.

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A instabilidade psicomotora aparece como uma interrupção em um contexto de tensão insuportável, ou também como uma demanda incessante de limites. O movimento do instável é excessivo e acelerado no aspecto quantitativo e improdutivo, sem um fim determinado no seu aspecto qualitativo, o que em definitivo expressa um não fazer.
A instabilidade tende a aumentar com o cansaço, por isto a ideia de cansar a criança com tarefas e atividades intensas não funciona. Assim como também não funciona a proibição do movimento, isto gera respostas reativas.
A instabilidade se mostra na presença de outras pessoas ou grupos de pares. Diminui notavelmente quando se estabelece um vínculo dual com um adulto que o escuta e atende. E fundamental que o adulto entenda que a conduta da criança é parte do seu padecimento e não é uma escolha dele. É entendível o sofrimento dos pais, mas eles devem entender que é uma coisa que a criança compadece, ela não escolheu ser assim.
Tem um autor muito importante para a psicomotricidade que é Ajuriaguerra, e ele fala que as causas da instabilidade são:
• Instabilidade constitucional: responde a predisposições inatas ou hereditárias.
• Instabilidade adquirida: pode ser consequência de fatores orgânicos ou traumáticos ou por situações psicológicas desfavoráveis (fatores socioeconômicos ou familiares).
• Instabilidade reativa: surge a partir de situações vitais ou situações traumáticas ou intolerância do meio ambiente a inquietude natural da criança.
Tratamento psicomotor para a instabilidade:
O primeiro que se realiza é uma avaliação, na qual se aplicam algumas provas e se observa na sala de psicomotricidade a forma de ser da criança. Também é fundamental a entrevista com os pais para conhecer como foi se construindo o sintoma. Faz-se uma visita ao centro escolar que a criança frequenta para conhecer o ponto de vista do professor e observar a criança neste ambiente.
A partir desta avaliação chega-se a um diagnóstico e com ele um projeto terapêutico.
A intervenção se dá em vários níveis:
• Com a criança: trabalho na sala de psicomotricidade de uma a duas vezes por semana dependendo do diagnóstico.
• Com a família: procura-se fortalecer o papel de pais e reconstruir a imagem que se tem do filho.
• Com a escola: compreender a situação da criança neste ambiente. Elaborar conjuntamente com a professora estratégias que ajudem a criança.
• Coordenação com equipe interdisciplinar: pediatra, psicólogo, neuropediatra.

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O que oferece a terapia psicomotora para estas crianças:
• Um lugar onde possa viver a sua inquietude sem censura e em forma segura. Ou seja, que possam viver isto sem censura mas ao mesmo tempo introduzindo delimitações e limites que dão segurança e proteção. Procuramos dar um lugar onde possa converter o excesso de movimento em prazer por movimento, um movimento com significado.
Isto lhe permite ficar mais lento, se deter para tomar em conta o outro, lhe permite escolher, pensar, decidir. Transformar o “eu sou um tanto incomodo” para “eu faço coisas valorizadas”.
• Um lugar para o cuidado corporal: procura-se promover uma conscientização corporal, procurando uma maior compreensão da realidade causa-efeito. Favorecer a responsabilidade sobre o próprio corpo.
• Oferecer um espaço de comunicação e jogo: procuramos que esse excesso de movimento se converta em jogo com o enriquecimento do espaço e dos objetos. Assim uma hiperatividade sem sentido se transforma em uma atividade prazerosa e significativa, que o levará a explorar o espaço, os objetos e outras atividades.
• Um espaço para o pensamento: procuramos o caminho desde a ação ao pensamento. Aceitamos e permitimos a criança vivenciar seus impulsos e necessidades em um ambiente de segurança, que a valoriza. Iremos introduzindo frustrações, o que lhe permite construir esse espaço-tempo, distância fundamental para o surgimento do pensamento e da ação criadora.
• Intervenção no nível grafo motor: nos últimos minutos da sessão sempre fazemos uma atividade grafo motora. Isto favorece a disponibilidade para este tipo de atividade, lhe devolve a experiência de autoria, criatividade, sentimento de espaço gráfico, organização da ação, presteza e foco da atenção, experiência com diferentes materiais e instrumentos, organização do tônus-postural e o desenvolvimento gnosopraxico.
Licenciada em Psicomotricidade Manuelita Dotti
dottimanuela@gmail.com
Consultório, Rua Jose Antonio Aranha, 85. (Amamãe).
9304.1935 – 3907.9865. Três Figueiras – Porto Alegre.

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